Juruti: afinal quem é o invasor?
31 de janeiro de 2009 por Paulo Limapor Edilberto Sena (*) publicado originalmente no Blog do Jeso
“Oitocentos hectares de floresta foram destruídos pela multinacional estrangeira Alcoa, na área de exploração de bauxita em Juruti. A empresa promete replantar 20 árvores por cada uma que derrubou”. Tal informação está num jornal da capital, Belém. Isso diz a empresa, naturalmente depois de retirar o minério de bauxita e levar para o estrangeiro.
As terras onde está instalada a exploração do minério pela multinacional estrangeira pertencia, e parte dela ainda pertence às famílias que secularmente habitavam e habitam aquela região. Inclusive parte dos 800 hectares destruídos pela empresa são área de litígio porque pertence a um assentamento de reforma agrária iniciado pelo Incra.
A ocupação ocorrida nestes dias pelas famílias em frente ao centro do canteiro de obras da Alcoa é chamada de invasão de propriedade e certos meios de comunicação regionais endossam tal notícia tendenciosa, como se a multinacional fosse a coitadinha, agredida por
vândalos caboclos.
Isto é, a invasora de ontem, hoje se apresenta como vítima de vândalos. Não se pergunta por que será que os moradores de Juruti Velho estão chegando a tal ponto de enfrentamento?
A Alcoa, baseando-se na lei do subsolo, invade com apoio oficial as terras dos agricultores de Juruti Velho, Juruti e até o Lago Grande do Curuai, em Santarém. Decide derrubar castanheiras (protegidas por lei federal), piquiazeiros (frutíferos por mais de 50 anos), bacabeiras, ipês, cedros, enfim, árvores que geravam alimento e renda aos moradores.
E para quê? Para retirar minério que gerarão bilhões de reais de lucro para uma só empresa, que se nega a repartir com os moradores tradicionais que são prejudicados pela presença invasora da empresa.
Os estragos sociais e ambientais é o que a Alcoa deixa para os jurutienses, mas recusa o diálogo de negociação justa, para dividir parte dos seus lucros. Ao contrário, os acusa de invasores, formadores de quadrilha e vândalos.
Afinal, quem é mesmo o vândalo nesta história? Quem é o invasor? O mais grave deste conflito, é que o governo do Estado do Pará imediatamente manda de barco e de avião pelotões de policiais militares para proteger a empresa estrangeira, utilizando os impostos cobrados dos paraenses.
Então, quem tem razão nesta história? Esta é parte da triste realidade da devastação da Amazônia, que o Estado diz estar protegendo. É mesmo?
* Padre diocesano, é diretor da Rádio Rural AM de Santarém.
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