O Balanço da Rede Mocoronga na Teia Cabocla
26 de agosto de 2008 por Fábio Pena
Mais de 83 jovens participantes vindos de 21 comunidades dos rios Tapajós, Amazonas e Arapiuns representadas. Dois dias e meio de intensas atividades, discussões e oficinas de educomunicação. Esses são alguns números do 8º Encontro da Teia Cabocla de Lideranças Juvenis que aconteceu nos dias 22 a 24 de agosto no Amazon Park Hotel em Santarém. O encontro mostrou mais uma vez ser um espaço de protagonismo da juventude ribeirinha. As distâncias que separam as comunidades situadas às margens dos rios Tapajós, Arapiuns e Amazonas parecem estar ficando muito menores depois que entrou em ação a Rede Mocoronga.
O encontro começou como de costume, com uma animada dinâmica de integração realizada pelo educador Magnólio de Oliveira. Como ele próprio se define, um membro da ala teen da terceira idade. Através de danças e muitas brincadeiras, o encontro começava a “esquentar”.
O coordenador do projeto Rede Mocoronga do PSA, Fábio Pena, apresentou a proposta de programação do encontro e motivou os jovens à participação. “Estamos no nosso oitavo encontro, onde vamos avaliar nosso trabalho e propor novos desafios”, afirmou.
Na oportunidade foram destacados os principais avanços da Rede Mocoronga, como a retomada das oficinas de educomunicação nas comunidades, o Festival de Vídeo Participativo ocorrido este ano, o avanço do programa de inclusão digital com os telecentros comunitários, o início do programa semanal na Rádio Rural de Santarém, a inauguração do Blog colaborativo da rede que logo mais iria acontecer.
No início do evento foi lançada uma surpresa a todos. Estavam para chegar ao encontro visitantes ilustres vindos de São Paulo e da Suécia. O suspense permaneceu até a manhã de sábado quando quatro jovens foram chamados para contar suas aventuras no país distante, através de um intercâmbio que realizaram na Suécia. Por meio da parceria entre o Saúde & Alegria e a Escola Nórdica, estudantes suecos vem realizar oficinas de vídeo participativo e alguns jovens ribeirinhos também podem ir até Estolcomo participar do intercâmbio.
Lá os jovens Juscelino Filho, Dailon Rômulo de Suruacá, Franciana Fernandes de Muratuba e Mônica Almeida de Belterra, puderam aprofundar seus conhecimentos na área de vídeo e mostrar a realidade da Amazônia. Mas a curiosidade maior dos colegas da Rede Mocoronga era saber como era o país distante. Entre tantas diferenças culturais, Dailon contou com se virava para falar algumas palavras em Sueco. Já Franciana não resistiu e falou que “a maior dificuldade era com a alimentação, porque lá não tem farinha de mandioca. A gente que está acostumada com aquele chibezinho ficava com saudades”, disse ela.
As novidades não paravam por aí. Os visitantes ilustres vindos de São Paulo também eram “mocorongos”. Jardson Melo, de Suruacá, e Felipe Rodrigues, de Boim, voltavam da cidade grande com uma bagagem bem especial. Traziam o troféu de mais um prêmio que acabavam de receber no dia 21 representando a Rede Mocoronga. Durante a 7º edição do Marketing Best Responsabilidade Social, a Rede Mocoronga, patrocinada pela Petrobrás, foi um dos projetos premiados.
Para Jardson, “esse prêmio é mais uma prova de que a juventude ribeirinha é capaz de levar a voz das comunidades da Amazônia para o Brasil através da comunicação. Eu vi uma cidade muito grande, tem de tudo, mas só para poucos que tem muito dinheiro. Além disso, o céu tem muita fumaça. Fiquei pensando na importância de valorizar nossa cultura e proteger a Amazônia”, disse o jovem com a voz trêmula para os colegas repórteres comunitários.
O encontro estava só começando. Após as comemorações os jovens partiram para as oficinas de jornal comunitário, rádio, blogs e para o a II Oficina Intercomunitária de Agentes Multiplicadores do ECA – Estatuto da Criança e do Adolescentes que acorreu simultaneamente.
Entre as diversas produções realizadas pelos jovens nas oficinas, destacou-se a melhoria da qualidade dos textos das reportagens comunitárias publicados no Jornal “Mensageiro do Futuro”, produzido no encontro. O editorial trazia um alerta importante com relação à distância ainda existente entre a lei do ECA e a realidade das comunidades.
Já na oficina de rádio, os jovens tiveram a oportunidade de apresentar o programa da Rede Mocoronga ao vivo na Rádio Rural. O estúdio ficou lotado e durante uma hora seguiram notícias e depoimentos empolgados para suas comunidades, amigos e familiares, além de discussões sobre o papel da juventude e a comunicação. Nas oficinas que ocorreram no estúdio central da Rádio Mocoronga na sede do Saúde & Alegria, foram produzidos quatro programas que enfatizaram temas como a situação da juventude ribeirinha, a importância da comunicação comunitária, o ECA e os desafios da participação juvenil.
A principal novidade estava na tela do computador. Jovens das comunidades de Maguari, Suruacá, Cachoeira do Aruã, Muratuba, Piquiatuba e cidade de Belterra participaram da oficina para montagem dos seus Blogs, paginas na internet onde já podem publicar conteúdos locais articulados a este Blog Central da Rede Mocoronga. A proposta é fazer com que essas comunidades que já dispõe de telecentros culturais, possam ocupar o papel de pólos avançados, incluindo as mídias digitais no processo de produção e disseminação de conteúdos da Rede Mocoronga. A oficina contou com a participação do experiente blogueiro santareno Jeso Carneiro e a colaboração da jornalista Dannie Oliveira.
Na noite do sábado, aconteceu o lançamento Oficial do Blog para a comunidade em geral. “O blog da Rede Mocoronga já está virando mania no nosso telecentro, porque nós podemos ver notícias nossas nele. E esperamos que outras pessoas comecem a ler também”, disse Jones Pintos, monitor do telecentro de Cachoeira do Aruã.
Os agentes multiplicadores do ECA das comunidades de Solimões, Piquiatuba, Capixauã, Vista Alegre, Maguari, Pedreira e Suruacá que estiveram participando da II Oficina do Programa Crianças da Amazônia receberam capacitação sobre os direitos fundamentais das crianças e adolescentes previsto na lei e planejaram formas de mobilizar suas comunidades em defesa desses direitos. Dinâmicas, jogos e a própria Rede Mocoronga será utilizada para a realização de campanhas educativas. Os agentes literalmente “vestiram a camisa do ECA” e estão dispostos a levar a mensagem para suas comunidades.