Fotos:Revista Veja
Na edição 2163 deste 5 de maio de 2010, a revista Veja publicou a reportagem especial “A farra da antropologia oportunista”, em que difama a comunidade dos cientistas da antropologia e promove uma visão discriminatória de grupos minoritários que buscam sua auto-afirmação e seus direitos historicamente negados.
A reportagem afirma que “critérios frouxos para a delimitação de reservas indígenas e quilombos ajudam a engordar as contas de organizações não governamentais e diminuem ainda mais o território destinado aos brasileiros que querem produzir”.
Nem precisaria ler os diversos parágrafos da reportagem para entender o tom discriminatório, elitista e preconceituoso da turma de jornalistas que fazem parte do apelidado PIG – Partido da Imprensa Golpista. A reportagem mistura ao mesmo tempo política com antropologia e direitos sociais, colocando logo na capa a foto do Presidente Lula que decretou a reserva indígena Raposa Serra do Sol, até agora não engolida pela turma do agronegócio de Roraima.
Já nos títulos é possível entender o que a VEJA pretende desconsiderando lutas sociais históricas: os novos canibais, macumbeiros de cocar, made in Paraguai, índio bom é índio pobre, problema dos brancos. São adjetivos pejorativamente utilizados.
Na narrativa “diminuem território destinado aos brasileiros que querem produzir”, a matéria cita o caso dos índios boraris de Santarém que lutam pela demarcação de suas terras na Gleba Nova Olinda. Mostrando uma foto de Odair Borari (ao lado), a Veja ironiza o movimento em defesa da vida e da cultura do Arapiuns como um “teatrinho na praia”. Cabe apenas perguntar, qual foi a lei que determinou que, neste caso, o território é daqueles que vieram de fora, muitas vezes de outros estados ou países, para explorar os recursos naturais às custas da destruição da floresta e da vida de comunidades tradicionais que vivem ali por dezenas de gerações?
A matéria provocou indignação da Associação Brasileira de Antropologia – ABA, que divulgou nota em que “clama pelo exercício de jornalismo responsável, exigindo respeito à atuação profissional do quadro de antropólogos disponível no Brasil, formados pelos mais rigorosos cânones científicos e regidos por estritas diretrizes éticas, teóricas, epistemológicas e metodológicas, reconhecidas internacionalmente e avaliadas por pares da mais elevada estatura cientifica, bem como por autoridades de áreas afins”.
Já não é novidade, mas antropólos citados na matéria, dizem que a revista MENTIU. No blog do jornalista Luis Nassif, o renomado antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, afirmou que os autores da Veja: “colocam em minha boca a seguinte afirmação: “Não basta dizer que é índio para se transformar em um deles. Só é índio quem nasce, cresce e vive num ambiente cultural original” . Gostaria de saber quando e a quem eu disse isso, uma vez que (1) nunca tive qualquer espécie de contato com os responsáveis pela matéria; (2) não pronunciei em qualquer ocasião, ou publiquei em qualquer veículo, reflexão tão grotesca, no conteúdo como na forma. Na verdade, a frase a mim mentirosamente atribuída contradiz o espírito de todas declarações que já tive ocasião de fazer sobre o tema. Assim sendo, cabe perguntar o que mais existiria de “montado” ou de simplesmente inventado na matéria. A qual, se me permitem a opinião, achei repugnante”.
Leiam aqui a famigerada reportagem da Veja:
A nota de repúdio da Associação Brasileira de Antropologia – ABA
E mais algumas pistas que mostram que VEJA MENTE