Justiça climática: novo conceito no FSM

22 de março de 2010 por Elis Lucien

Artigo originalmente publicado no site:

www.fase.org.br

Fausto Oliveira

Neste terceiro dia de Fórum Social Mundial, uma das centenas de atividades discutiu algo que o mundo ainda terá que dar uma atenção muito maior do que já dá: as mudanças no clima. A Fase foi uma das entidades organizadoras do encontro, que aconteceu nas dependências da Universidade Rural da Amazônia. A perspectiva da discussão é nova. Em vez de limitar o debate a perceber que há novidades ruins no ambiente planetário, a campanha internacional “Justiça Climática Agora” quer definir os papéis sociais que se escondem por trás da grave crise que se avizinha.

Vários depoimentos e experiências foram apresentados, já que a atividade envolvia representantes de quatro continentes. Mas no que toca a realidade brasileira, selecionamos duas interessantes contribuições trazidas ali por dois diferentes participantes. Um deles é Celso Marcatto, da ONG ActionAid. O outro (vide a próxima matéria desta edição) é o sindicalista rural de Santarém, Pará, Manoel Edvaldo.

Celso Marcatto divulgou entre os participantes dois estudos feitos por sua organização, um deles em âmbito internacional e outro no Brasil. Ambos tentaram conhecer como os pequenos agricultores e camponeses estão percebendo as mudanças climáticas já registradas. O relatório internacional fala sobre a realidade de Bangladesh e Vietnã, na Ásia, e Malawi, na África. No caso do Brasil, foram feitos estudos no norte de Minas Gerais, na região paraense de Santarém e no estado da Paraíba.

A maior queixa dos agricultores é relacionada ao comportamento do clima, que não está mais funcionando de acordo com seu conhecimento tradicional. Eles percebem que os eventos hidrológicos críticos, como cheias, grandes tempestades e grandes ventos, estão acontecendo com mais freqüência e mais intensidade”, disse o pesquisador da ActionAid.

Marcatto disse que os agricultores brasileiros hoje, quando plantam, assumem o risco de não colher safra devido à imprevisibilidade do clima. “Perdas de safra começam a ser mais comuns, a perda total ou a redução das safras. O interessante do depoimento dos agricultores é que eles percebem que o clima está mudando, não tanto pela redução da quantidade de chuva, mas pela forma da chuva se comportar: a imprevisibilidade da chuva e a falta de certeza sobre se o período de chuvas chegou. A chuva não funciona mais com a mesma dinâmica”.

Eles se adaptam, mas a tendência é de que algo da biodiversidade agrícola sempre se perca. “Em algumas regiões, agricultores que antigamente plantavam milho agora plantam sorgo. Especificamente no município mineiro de Porteirinha, eles estão abandonando o milho por não ter garantia de colher, e com o sorgo eles têm mais chance. Também ali alguns estão abandonando o cultivo de arroz”, afirmou.

Daí que o novo conceito de Justiça Climática tenha sentido. Está óbvio que, se nada for feito, as mudanças climáticas virão com força ainda maior e afetarão com mais intensidade aqueles que estão mais desprotegidos, ou seja, os pobres e vulneráveis de todos os países. Exigir que o mundo (empresas, governos, entidades multilaterais) trabalhem pelo fim do aquecimento global é de fato ficar do lado dos povos que hoje estão ameaçados por impactos ambientais sem precedentes.

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