Vindos de mais de 30 comunidades ribeirinhas atendidas pelo Projeto Saúde e Alegria, cerca de 100 jovens irão se reunir nos dias 05, 06 e 07/12/2013 em Santarém, para discutir os desafios da juventude na perspectiva dos territórios onde vivem, na bacia dos Rios Tapajós e Arapiuns, como a Reserva Extrativista Tapajós Arapiuns, a Floresta Nacional do Tapajós e Assentamentos onde estão localizadas suas comunidades. É o XIII Encontro Teia Cabocla, evento tem apoio da Fundação Telefônica / Vivo, Fundação Konrad Adenauer e Fundo Vale.
Os Encontros da Teia Cabocla são eventos anuais realizados pelo Projeto Saúde e Alegria reunindo todos os grupos de jovens que participam de projetos desenvolvidos pela organização, principalmente a Rede Mocoronga de Comunicação Popular, promovendo a inclusão digital das comunidades e onde os adolescentes protagonizam a prática da comunicação comunitária disseminando campanhas educativas de saúde, direitos da criança, educação ambiental e valorização da cultura local.
Entendendo a juventude com um momento importante do desenvolvimento humano, o Projeto Saúde e Alegria sempre se preocupou em criar oportunidades para que possa desenvolver seus potenciais como pessoas, cidadãos e trabalhadores. Desta forma, surgiram outras iniciativas além da comunicação e da promoção da inclusão digital, como a criação de cursos de empreendedorismo visando qualificar a juventude em novas formas de inserção no mundo do trabalho, por meio da inovação, do uso das tecnologias e da economia criativa. Exemplo disso é o curso Jovens Empreendedores do Tapajós, com apoio da Fundação Telefônica / Vivo, que está em sua fase experimental quase finalizando.
Embora estas ações venham contribuindo para elevar as oportunidades de inclusão social da juventude ribeirinha, existem outros desafios que precisam ser compreendidos e levados em conta dentro de uma visão integral do que é estar sendo jovem na região do Tapajós e Arapiuns. Desafios ligados ao passado, ao presente e ao futuro dos territórios em que vivem. No caso da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, por exemplo, onde lutas históricas foram travadas pelas comunidades pela proteção de seu território tradicional, hoje a população tem amparo legal para nela viver e produzir, mas agora enfrentam o desafio de gerir o território e aproveitar seu potencial para desenvolver alternativas econômicas sustentáveis e melhorar as condições de vida de seus moradores. É nas novas gerações que esses desafios mais repercutem. “O que será da Resex Tapajós/ Arapiuns no futuro se a maioria dos seus jovens saem para morar na cidade em busca de oportunidades? Se as opções de trabalho e renda são bastante restritos e o acesso ao ensino médio, por exemplo, é bastante precário? ”, questiona Paulo Lima, um dos coordenadores do evento.
“Acreditamos ser fundamental o engajamento da juventude nos debates sobre o futuro de seus territórios, não somente porque são eles que vão gerir essas regiões no futuro, mas também porque a energia criativa da juventude pode inspirar novas iniciativas que possam promover mudanças que superem os desafios hoje existentes”, complementa Fábio Pena, educador do Projeto Saúde e Alegria.
Diálogo de gerações
Entre os principais momentos da programação está o “diálogo de gerações”, em que lideranças antigas da Resex Tapajós/ Arapiuns, que participaram ativamente da luta pela sua criação, vão dialogar com os jovens e lideranças atuais, demonstrando suas percepções sobre o que foram as lutas do passado, em que estágio estão agora, e o que pensam sobre o futuro.
Um dos objetivos da atividade é reavivar na memória das novas gerações as lutas históricas do seu povo, como também promover seu engajamento nas lutas atuais numa perspectiva coletiva atual.
Ativismo para defender direitos da juventude ribeirinha
Outro momento importante da programação será quando os jovens vão realizar um diagnóstico da situação atual, através de trabalhos em grupos, apontando quais suas principais demandas e oportunidades existentes. Os debates vão girar em torno de temas como trabalho e renda; educação formal; identidade cultural e o papel do jovem da floresta para a Amazônia e o mundo; participação e ativismo do jovem na comunidade, no território e nos espaços de cidadania; acesso e direito à comunicação e difusão do conhecimento e da educação comunitária; território e meio ambiente.
Em plenária serão eleitas as principais questões a serem trabalhadas no próximo ano pelo coletivo de jovens da Teia Cabocla. As prioridades serão apontadas pelos próprios jovens, mas os coordenadores já adiantam alguns assuntos que poderão ganhar maior relevância. “Demandas como o acesso ao ensino médio de qualidade, o direito à comunicação, a necessidade de oportunidades de renda para a juventude e questões ambientais como os grandes empreendimentos no Tapajós devem aparecer com mais destaque”, argumenta Fábio Pena.
O encontro vai contar com a presença do coordenador da Escola de Ativismo, Marcelo Marquesini, que falará aos jovens sobre experiências de ativismo para defender causas comuns, ideias ou promover mobilizações na sociedade. “Nossa proposta é trazer elementos para que os jovens possam utilizar melhor os instrumentos que as comunidades já tem acesso, como os telecentros, os blogs, as rádios, as redes sociais para ter uma voz mais ativa sobre questões mais regionais e não apenas localizadas, afinal, os problemas da juventude numa comunidade são bastante comuns nas demais de uma mesma região”, afirma Paulo Lima.
Como resultado do encontro espera-se que os jovens elaborem planos de ação em forma de campanhas para que possam ter um papel mais ativo na defesa de seus próprios direitos.