A Bacia Amazônica, maior reserva de água doce de superfície do planeta, está na lanterna do acesso nacional à água tratada e ao esgotamento sanitário. O paradoxo não chega a causar espanto geral — e a prova disso é que persiste. Mas felizmente chamou a atenção de pelo menos um grupo de pessoas que, há exatos 30 anos, resolveu trabalhar em um “cantinho” da Amazônia equivalente a duas vezes Alagoas, implantando sistemas de abastecimento à primeira vista simples, mas sob uma lógica inovadora: a da autogestão e do empoderamento comunitário. Os resultados que vêm conseguindo inspiram políticas públicas e ajudam a reduzir a incidência de doenças ligadas à água, causa importante da mortalidade infantil no Norte

Saúde e Alegria

Na Amazônia, as comunidades participam da gestão da água

Divulgação / Chico Ferreira

Diversas vezes premiado no Brasil e no exterior, o projeto Saúde & Alegria, sediado em Santarém, no Pará, já alcançou, com seus Microssistemas de Abastecimento de Água com Gestão Comunitária, quase 13 mil pessoas da zonas rurais de quatro municípios do estado: Santarém, Juruti, Belterra e Aveiro. Se somadas as diversas outras iniciativas da ONG, focadas em saúde, geração de renda, educação, cultura e inclusão digital, são mais de 30 mil pessoas beneficiadas de zonas remotas desse imenso território. E tudo começou em 1983, quando um médico sanitarista e uma arte-educadora foram convidados pela prefeitura de Santarém a tentar, com atenção sanitária e informação, reduzir a incidência de enfermidades provocadas pela falta de saneamento na sua dispersa zona rural. Dois anos depois, com a mudança de governo, o programa se extinguiu. Mas as ações dos dois, já com envolvimento direto das populações beneficiadas, continuaram, derivando na implantação oficial do Saúde & Alegria em 1987.

‘Focamos em as áreas totalmente desassistidas. Quando começamos, era a gente ou ninguém. Foram 16 comunidades-piloto. Hoje, são 150. O melhor foi ir aprendendo com os ribeirinhos’ – Caetano Scannavino, coordenador geral da ONG Saúde & Alegria